sábado, 30 de abril de 2016

Comunicado


O autor informa que suas crônicas estão sendo publicadas com exclusividade na página Crônica do Dia (www.cronicadodia.com.br).
Convida os seus leitores para uma visita à pagina, onde poderão encontrar crônicas de diversos autores de renome.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Convicções

Sou um homem sem convicções. A única certeza que tenho nesta vida, é que sou um homem desprovido de certezas. Não tenho certeza de nada. Ou tenho certeza apenas de que não tenho certezas. Me faltam convicções. As mais finas convicções. As grossas também. As de qualquer jeito. Finas. Grossas. Densas. Curtas. Me faltam convicções de todo o gênero. Sou um sem-convicções.

Ser um homem sem convicções é um problema muito sério, amigo. Seríssimo. A humanidade está fadada ao absoluto fracasso se o tecido social for costurado por homens sem convicções. Pobres homens, pobre humanidade. Pobre porque esses homens pobres serão arrebanhados facilmente, serão verdadeiras vaquinhas de presépio. Pobre humanidade por ter em seu conjunto social homens pobres, homens sem convicções. Enfim, meu amigo: falta de convicção significa pobreza. Uma pobreza só.

Mas não estou aqui para tratar dos problemas da humanidade. Os meus, pequeninos como um grãos de mostarda, já são de difícil manejo. Quem sou eu pra me meter nos graves problemas do mundo se nem os meus, pouquíssimos e paupérrimos, eu dou conta exatamente por me faltar esse elemento fundamental que distingue homens de ratos: as convicções?

Um homem precisa de muito pouco para viver. Os mais humildes dirão um chão, roupas, comida, trabalho. Pois eu digo que para um homem viver, e viver dignamente, ele precisa ter convicções. E mais nada. A convicção anima. A convicção acalma. A convicção entusiasma. A convicção movimenta. A convicção abre portas. E fecha também, com convicção. A convicção derruba. A convicção alimenta. A convicção une. A convicção empurra. A convicção desmancha. A convicção edifica. A convicção solidifica. A convicção cristaliza. A convicção serena. A convicção implode. A convicção satisfaz. A convicção perdoa. A convicção enfrenta. A convicção costura. A convicção ajuda. A convicção resiste. A convicção levanta. A convicção arruma. A convicção encara. A convicção basta.

O problema da convicção, amigo, é que ela é danada. Escapa, bandida, por entre suas mãos, seus dedos, como veia bailarina, como a água depositada num recipiente cheio de furinhos, como um chuveiro. Olhe pra cima. Veja lá a água caindo da ducha. Pois é. Você passa o dia remoendo até as vísceras, cutucando, e de repente, você a encontrou; um encontro fascinante e ao mesmo tempo sedutor. Nada! Afloram emoções, novos sóis e novas luas, novas águas e novos rios, e, de repente, como um castelo de areia, são arremedos de convicção implodindo, simulacros de convicção se desmanchando, projetos mal-acabados de convicção se espalhando. Convicção mesmo, nada.

Outro dia foi assim. Foi quase um ano refletindo, dialogando, exercitando o penoso e difícil hábito de pensar (não tão hábito assim), para chegar num ponto que me pareceu consistente e que me deu trabalho (só eu sei quanto). Quando imaginei que já tinha algumas certezas, elas se foram na velocidade de um gnu, se esfarelaram feito bolacha velha e tudo farinha virou; implodiram pilares, crenças, certezas e um arremedo mal-acabado de convicções. Mas não desisto, meu caro. Simplesmente porque trago a convicção de que no assunto convicção, não podemos desistir. É norte. Precisamos dela. Sou um homem sem convicções. Hoje. Um corpo sem alma. Uma alma sem destino, que vaga, que se perde, que se encontra, mas que se perde de novo. Tudo bem. Estou na trilha. Logo chego. Muito embora diga tudo isso ainda sem muita convicção.
 
P.S.: publicada originalmente no cronicadodia.com.br

sábado, 13 de setembro de 2014

Pau de Ferro

A informação está disponível no site da Prefeitura de Pau dos Ferros: “Até o começo do século XVII a região do atual município de Pau dos Ferros não passava de uma vasta área ainda inexplorada. Naquela época, na então província do Rio Grande do Norte, na chamada zona oeste, uma trilha foi feita por vaqueiros e viajantes para terem acesso até a província do Ceará. Ao longo dessa trilha seguia um curso de água, que estava sempre cheio nos meses de janeiro a junho, época do inverno na região. Esse rio mais tarde ficou conhecido por Rio Apodi. Essa região ficava entre duas grandes serras, tornando assim fácil de fazer longas caminhadas e aproveitar as pastagens nessa grande planície. Às margens do Apodi, umas grandes árvores eram utilizadas pelos viajantes para alívio do calor e como ponto de atividade comercial, como vender e marcar gados”.

Localizada no interior do Estado do Rio Grande do Norte, na microrregião homônima e mesorregião do Oeste Potiguar, a 393 quilômetros de Natal, Pau dos Ferros é um pequeno município de aproximadamente 28 mil habitantes, e lá, entre esses 28 mil habitantes, vive a família de meu grande e estimado amigo Pau de Ferro.

Quando o conheci, estranhei. Também, com esse nome... Estava no “Nosso Bar”, nas imediações da Santa Teresinha. Tomava uma cachaça quando ele chegou. Assumpção, o dono do bar, e por coincidência, meu avô, o encarou: “Vem um bocadinho aqui, Pau de Ferro, vem; deixa eu lhe apresentar meu neto”. Foi quando ele me explicou que o apelido era por causa de sua cidade natal, e não por outras razões. A partir daí, nos tornamos grandes amigos.

Pau de Ferro era pau pra toda obra. Se havia alguém que não recusava um trabalho, esse alguém era Pau de Ferro. E fosse o trabalho que fosse. Não era estudado, mas conseguira desenvolver certas habilidades que escapam ao conhecimento do fino homem das cidades. Pequenos serviços elétricos, hidráulicos, de construção. Fazia de tudo. E para serviço pesado, Pau de Ferro não podia faltar. Era comum vê-lo em mutirões pela vizinhança, subindo e descendo laje, com latas e latas de concreto nos ombros. O pagamento? Uma refeição simples, laranja, suco. E cachaça. Muita cachaça.

Esse era o seu ponto fraco. Sou daqueles que acredita que uma cachacinha só faz bem. Mas com moderação. Pau de Ferro bebia pra valer. Nos finais de semana então era fácil encontrá-lo cantando pelas ruelas, sem camisa, suando em bicas, bêbado que só vendo.

Pois nesta manhã recebi a triste notícia da morte de meu querido amigo Pau de Ferro. Dizem as bocas do bairro que ele enfartou. Que estava enchendo laje lá pras bandas do Marlene Miranda e sentiu-se mal. Chamaram o resgate, mas ele já chegou morto ao hospital. Quanto a outras informações, vigora ainda o desencontro. Ninguém sabe onde o corpo vai ser velado, horário do enterro, se avisaram a família. Pelo que sei, por aqui, não havia ninguém. A família era toda de lá, de Pau dos Ferros.

Como sou avesso a essas cerimônias fúnebres, optei pela oração, poderosa oração. Aqui mesmo, meu amigo, direto do meu computador. Receba esta oração em forma de crônica, descanse em paz, e nada de bebidinha aí, hein?

P.S.: publicada originalmente no cronicadodia.com.br

sábado, 23 de agosto de 2014

Guardados

Dia frio. Não sei se é coisa de velho, mas mesmo com uma preguiça inclemente, resolvo dar uma bisbilhotada. É uma caixa sem graça. Está lá, impregnada de poeira, guardada há séculos no fundo de um guarda-roupa. Nem lembrava mais dela. A modorrência me consome, mas não desisto. Coloco-a sobre a mesa. Abro.

Apanho um papel velho, amarelo, datado de 22/05/1996. Está escrito: “Teste imuno-químico de gravidez. Resultado: POSITIVO”. Lembro-me daquele dia. Estávamos tentando nosso primeiro rebento. Duas semanas antes, minha mulher havia caído em prantos com um pequeno sangramento, inconfundível aviso de começo de menstruação. Depois o sangue estancou. Duas semanas mais e o exame com esse resultado aí. O início da vida, ainda vidinha, do meu pequeno gigante militar.

Encontro dois cartões postais que muito me alegram. São do meu amigo Pompeo Ferro, pai do Francisco. Num deles está escrito: “Castellabate, 22/04/1992. Um forte abraço, Sergio. A você, a toda sua família e a todos do seu trabalho. Deste teu amigo que muito vos estima, Pompeo Ferro”. E no outro: “Naquela casinha lá no fundo, com a janela aberta, há 57 anos atrás, vinha ao mundo este seu amigo Pompeo. Um forte abraço a você, a toda a sua família e aos seus amigos de trabalho”. A cidade era San Marco de Castellabate, no sudoeste da Itália, cidade natal do meu amigo.

Vejo uma foto do saudoso Monsenhor Teófilo de Almeida Crestani, antigo pároco do Santuário de Santa Teresinha, que nos deixou em 11/12/1993. Lembro-me de uma frase monumental sua, dita para as carolas de sacristia que odeiam respirar o mesmo ar fresco dos jovens, e que cismam com a altura da saia das meninas: “Antes de minissaia na igreja do que fora!”.

Um adesivo. Um adesivo que nunca foi colado. Um adesivo do Pinguim, famosa choperia de Ribeirão. Sim, sim, é verdade, digo pra mim mesmo como que se respondendo a alguém. Estive em Ribeirão, na casa do César, meu cunhado, em 1995. Passamos um final de semana lá, e conhecemos o famoso chope.

Percebo que existem certos guardados que já deveriam estar no lixo. Por exemplo, uma tabela da Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos. Pra que guardar uma tabela de Copa do Mundo? Vejo no grupo B que o Brasil, na primeira fase, ganhou da Rússia por 2x0; de Camarões, por 3x0 e empatou com a Suécia por 1x1. Depois ganhou dos Estados Unidos, em São Francisco, no dia da comemoração da independência deles, por 1x0, da Holanda por 3x2, da Suécia por 1x0, e, por fim, sagrou-se campeão em cima da Itália, nos pênaltis, quando o Baggio chutou aquela bola pra fora do estádio. Uma planilha de receitas e despesas (meu Deus!!!), quando eu pagava R$ 98,00 numa parcela de IPVA, era associado do Círculo do Livro e tinha conta no hamburgueiro do bairro. Ah, vejo que naquela época eu conseguia guardar dinheiro na poupança! Bons dias! Agora, pra que guardar nota fiscal referente à compra de um toca-fitas de carro no valor de R$ 248,20?

Chega. Chega disso tudo. Guardo os papéis de volta, fecho, volto a caixa para o seu lugar, no fundo do guarda-roupa. Fico a pensar, porém, se não seria caso de fazer uma faxina, jogar fora a velharia, tabelas de copa, planilhas, notas fiscais. É... Talvez... Qualquer dia desses.

sábado, 9 de agosto de 2014

Redução de jornada

A redução da jornada de trabalho é um assunto que vira e mexe estampa os bons jornais. Normalmente são os sindicatos que defendem arduamente a redução da jornada sem redução de salários, como forma de gerar mais empregos.

Padre Alberico, que narrou a história do sacerdote Antônio Miguel, no livro “Confidências de um sacerdote”, é um dos defensores dessa redução. Para ele, a redução da jornada de trabalho é uma medida positiva porque beneficia o ser humano, porque vai propiciar ao trabalhador um tempo maior para o descanso, o lazer, a vida em família.

Segundo ele, a política deve ser praticada com os olhos voltados para o ser humano. “É óbvio que a geração de novos empregos, em linhas gerais, também quer dizer isso, mas você não pode simplesmente julgar a ação política sob uma única perspectiva. Seria reduzir demais o seu impacto. Quando houve a diminuição de jornada de trabalho na França, e os novos postos de trabalho não vieram, a crítica partiu de forma pesada para cima da lei como se ela tivesse fracassado. Em absoluto. Veja a questão sob a perspectiva humanista. O homem ganhou um tempo a mais para estar com a família, para o lazer ou mesmo para estudar, fazer cursos, adquirir novos conhecimentos. O fim de qualquer ação política deve ser propiciar melhores condições de vida para as pessoas”.

Ainda segundo Alberico, “no Brasil, a redução da jornada para 40 horas semanais, e gradativamente, chegar a 35, é perfeita. O trabalhador brasileiro trabalha muito, nossa carga horária é uma das maiores do mundo, simplesmente porque existem as famigeradas horas extras. Não se trabalham 44 horas semanais, mas muito mais. É possível porque essa diminuição de jornada sem redução de salário é perfeitamente assimilável pelas empresas, que nas últimas décadas lucraram em demasia”.

Mas acredite, leitor, que outro dia, abrindo “O Globo”, vi que o bilionário Carlos Slim, proprietário da Telmex, gigante mexicana de telecomunicações, que alterna com Bill Gates o posto de homem mais rico do mundo, está defendendo uma semana de trabalho de três dias, “para reduzir os índices de desemprego e, de quebra, permitir que as pessoas inovem mais, além de passar mais tempo com a família. Neste modelo, a jornada de trabalho seria de 11 horas por dia”.

Pelo que vejo na notícia, a proposta não é nova. Em junho de 2012, em uma conferência na sede da ONU, em Genebra, o magnata já tinha defendido a jornada de três dias por semana, com “10 ou 11 horas, para ter livres os outros quatro dias e dedicá-los à família, a inovar, a cultivar-se o criar”.

Ainda consta da notícia que já existem programas que combinam uma redução de horas trabalhadas com subsídios do Estado. “Na Alemanha, por exemplo, o governo lançou um sistema chamado Kurzarbeit, pelo qual a jornada é reduzida em empresas que solicitam a mudança devido a problemas econômicos. O salário pago pela companhia aos trabalhadores diminui, e o Estado paga uma parte — mas não a totalidade — da diferença”.

Sabe que gostei da expressão: “cultivar-se o criar”? Muito boa, não? O trabalho deve dignificar, meu jovem, e não ser uma violência, um assalto à mão armada; roubar do ser humano o que ele tem de melhor: o seu próprio existir. O homem larga filhos, família, lazer, larga tudo, tudo; horas preciosas são comercializadas a preços módicos. Não sobra tempo pra nada. Um verdadeiro massacre.

sábado, 2 de agosto de 2014

Porto

Recomendações: 1) responsa, capisce? Responsa sim, meu camarada! Aproveite bem os seus dias, mas com responsabilidade, o que significa antes de tudo, pesar as consequências dos seus atos; 2) evite os excessos; se tem uma palavrinha mágica aí pra resumir isso tudo, essa palavrinha se chama equilíbrio; em tudo, sacou? Bebida, farra, mulher... 3) cuidado com a alimentação; não vá querer comer tudo o que vir pela frente; o tempero de lá é diferente do tempero daqui; nos primeiros dias coma o básico, basicão mesmo; cuidado com a gordura, os molhos; depois que estiver mais acostumado, aí sim você libera geral, mas vai com calma; 4) e o mais importante: faça tudo que tiver vontade, mas lembre-se que não é o fim do mundo; você terá muita coisa ainda pra viver. Ah, e chegando lá me mande uma mensagem avisando que chegou, ok?

Aproveito o instante, que vai durar alguns minutos entre o deslocamento de casa até o local marcado para a saída, na noite morna de um sábado julino, para rezar o terço pro menino. Meu pequeno gigante militar vai ouvindo tudo com atenção, balançando a cabeça que sim, concordando com tudo ipsis literis, já sabendo eu que a cabeça do bichinho já flana pelas ruas de Porto Seguro, no show do MC Guimê, numa noite em que se respira aventura e poder.

No meu tempo não tinha dessas coisas, não! Comemoração de formatura era numa chacrinha emprestada pelo pai de alguém, um churras básico, futebolzinho e olhe lá. Isso se a coisa toda não se resumisse a um encontro em alguma pizzaria da cidade. Sem contar que a comemoração era no final do ano. Claro! Eu nunca vi comemorar a formatura em julho! É igual aquela história de lançamento de carro. Lança o carro modelo 2015 em maio de 2014.

“E aí, véio?”. Eles chegam e se cumprimentam. Ficam só dando um bisu no movimento, meio de longe, tirando sarro das bagagens alheias, curtindo aquele momento que sabem único de toda uma existência. Não querem ir tomar seus assentos no ônibus. Num dado momento, já um tanto incomodada, uma mãe intervém dizendo que já estava mais que no horário e que seria melhor que eles fossem para o ônibus. “Nós já vamos. Só tamo esperando o Pedrinho”. Desculpa esfarrapada, penso eu. Naquela agitação toda, com certeza o Pedrinho já estava sentado em seu lugar, dando altas gargalhadas sobre tudo o que acontece à sua volta.

Passa o tempo e os grandes homens, que sabem tudo, enfim tomam a esperada decisão. Cada qual procura o pai, ou a mãe, para deixar-se cair num abraço gostoso de despedida, receber um beijo amoroso e transmissor de bons fluidos e boas energias. O meu segue a cartilha. “Vai com Deus, meu filho! E se cuide, hein?”.

Meu pequeno gigante militar partiu. Partiu pra Porto Seguro, deixando o dele aqui, porque lá, de porto seguro não vai ter nada. Dez baladas. Duas micaretas. Um churrasco com pagode. Shows com MC Guimê e MC Catra. Hotel com mais de quinhentos jovens sedentos de mundo numa semaninha básica sem os pais. Outro dia era eu recebendo as recomendações. Mudaram-se os papéis, mas até aí tudo bem. O problema é o mundo pra matar a sede dessa meninada: mudou tanto!

domingo, 27 de julho de 2014

Comunicado

O autor informa que suas crônicas estão sendo publicadas com exclusividade na página Crônica do Dia ( www.cronicadodia.com.br ). Convida...